quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Uma das apostas nucleares da programação do CCVF: GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea – ganha dimensão maior em ano de Capital Europeia da Cultura
De 1 a 11 de Fevereiro, o CCVF acolhe a 2ª edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea
“Island of no memories”, Kaori Ito
Na abertura de um ano particularmente especial, o GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea apresenta-se como o primeiro grande evento do Centro Cultural Vila Flor, numa edição incrementada a pensar na correspondência do público atento às correntes das artes performativas. O Festival, este ano integrado na programação da Capital Europeia da Cultura, trará a Guimarães uma mescla entre companhias internacionais consagradas e uma nova vaga de criadores nacionais, que permitirá confrontar realidades e assimilar diferentes formas de expressionismo em palco. Num conjunto de oito espetáculos a serem apresentados de 1 a 11 de fevereiro, contam-se sete estreias, quatro mundiais e três nacionais.
Logo na abertura da sua segunda edição, a 1 de fevereiro, um importante momento representado na estreia mundial da nova criação (“Au-Delà”) da internacionalmente reconhecida companhia belga de dança contemporânea les ballets C de la B, que conta com coreografia de Koen Augustijnen.
Para esta criação, o coreógrafo vira a sua atenção para o imaginário da vida após a morte, explorando os problemas que temos em aceitar a nossa mortalidade e a dificuldade com que enfrentamos a morte de alguém querido. Les ballets C de la B apresentam-nos, em “Au-Delà”, um trajeto de cinco bailarinos pelo percurso arbitrário de que é feito o mundo. Há uma realidade que nos transcende e nos escapa, e para a qual procuramos, incessantemente, uma explicação, a explicação. Procurámos nos mitos e deuses, na natureza imperscrutável, procurámos intensamente. “Au-Delà” é essa procura.
Dada a universalidade do tema, a companhia belga decidiu envolver o público no processo criativo desta obra lançando um desafio à audiência para contribuir com algumas sugestões que servirão de inspiração para o resultado final desta criação, que será apresentada no dia 1 de Fevereiro, às 22h00, no Grande Auditório do CCVF.
No dia 30 de janeiro, pelas 16h00, realizar-se-á um Ensaio destinado à Imprensa e Escolas para antecipar um pouco daquilo que será a performance de dia 1 de Fevereiro. Convidamos o vosso órgão de comunicação social a estar presente.
No segundo dia de festival (2 de fevereiro), sobe ao palco Um gesto que não passa de uma ameaça, uma obra recentemente agraciada com o “Prix Jardin d’Europe”, um galardão obtido em Bucareste, Roménia, e referenciada pela crítica nacional como um dos 10 melhores espetáculos de dança em 2011, e que vem cimentar a posição de primeira linha de Sofia Dias e Vítor Roriz no que diz respeito à criação contemporânea. Desagregar para construir. Este parece ser o mote que está na génese de “Um gesto que não passa de uma ameaça”, representando um mundo contingente e mutável, uma miríade de possibilidades vertiginosas.Um gesto que não passa de uma ameaça” não passa de um gesto que se renova a todo o instante, criando novos modos de construir mundos.
No dia seguinte (3 de fevereiro), é apresentado “Dancing With The Sound Hobbyist” (estreia nacional), uma viagem cosmopolita ao universo musical de Zita Swoon e à concomitante fusão com o coletivo de dança Rosas.
Iniciado em 1993, Antuérpia, o projeto musical Zita Swoon, do qual Carlens é fundador, mistura as produções melancólicas e penetrantes com o groove do funk, o folk tradicional com o blues. O grupo de rock indie tem como particularidade o facto de nunca se repetir ao vivo. Nos últimos 27 anos, o coletivo Rosas tem oferecido ao panorama da dança internacional produções pautadas pela estreita relação entre movimento e música, lugares onde tempo e espaço se fundem na ebulição dos corpos. As fortes raízes sonoras de Keersmaeker encontram-se em grande parte das suas coreografias. Esta cumplicidade, espelhada pela vasta paleta musical de Zita Swoon, dá origem à perfeita sintonia entre movimento e som, o que faz com que neste espetáculo músicos e bailarinos assumam as duas funções de forma indiscriminada.
Em dia de fecho da primeira semana de festival (4 de fevereiro), o Pequeno Auditório do CCVF recebe “iDENTiDADE”, uma proposta artística produzida especificamente para a Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, que a vimaranense Rafaela Salvador pretende que seja de caráter multidisciplinar, inclusivo e inovador. “iDENTiDADE” é um repto lançado à comunidade e uma experiência enriquecedora que dilui fronteiras entre criadores e fruidores. Os objetivos, sem dúvida ambiciosos, possuem o mérito trazido pelo trilhar de novos caminhos na descoberta da identidade cultural vimaranense. Não uma descoberta icónica e óbvia, acessível a todos, mas uma procura de aspetos que se escondem nas sombras e nos lugares recônditos. Através da envolvência das populações, desmistifica-se o processo criativo, criam-se novas linguagens voltadas para o futuro, formam-se novas plateias.
A abrir a segunda ronda de espetáculos (8 de fevereiro), mais uma estreia no Pequeno Auditório do CCVF com a apresentação de “O Nada”. Espetáculo de Dança Multidisciplinar da CiM (Companhia Integrada Multidisciplinar), “O Nada” insere-se na trilogia de que fazem igualmente parte “O Aqui” e “O Depois”, e parte da vontade de complexificar os labirintos entrepostos destas peças, procurando criar um lugar de uma luz imensa. A CiM é uma companhia de dança contemporânea/teatro físico que une intérpretes e bailarinos com e sem deficiência e apresenta aqui um projeto inovador que trata a leveza do nosso extraordinário “progresso”, as relações entre esfera pública e privada, um mundo de cruzamentos incivilizados. Esta peça apresenta o corpo como uma câmara de observação e projeta a leveza e a contradição tratadas nos temas da natureza humana. “O Nada” é sobre os subterrâneos nas alturas, subterrâneos no terraço, onde os sentidos se desarrumam num estonteante vazio.
A 9 de fevereiro (quinta-feira), o coreógrafo português Victor Hugo Pontes apresenta em estreia mundial “A Ballet Story”. Este trabalho tem como ponto de partida a obra “Zephyrtine”, de David Chesky. Este espetáculo, que contará com cinco bailarinos e com a participação da Fundação Orquestra Estúdio, é um exercício de abstração. Abstração que junta o movimento com a efemeridade da música. Tal como um som, o corpo desenha uma linha que se detém, se dissipa no movimento seguinte. No ballet de Chesky, “Zephyrtine”, há contos de fadas. Há o mundo maravilhoso e fantástico das crianças. Em “A Ballet Story” a moral é outra, o desenlace, diferente. “Não sei se a história se ajusta à música ou se a dança se ajusta à história” (Victor Hugo Pontes). “A Ballet Story” não é uma ilustração da história original. É um espaço de permanente dinamismo. Cada espectador será livre de construir a sua narrativa. A construção como (re)interpretação, rumo a uma liberdade criadora que restitui o que de fantástico todos esperamos.
A penúltima apresentação do festival, a 10 de fevereiro, é da responsabilidade de Kaori Ito. “Island of no memories” conta a história de um homem que se desprende da sua inevitabilidade através de um processo de amnésia. Uma viagem pelo amor e ciúme, pela idade e morte, onde o que parece ser uma experiência divertida se transforma, de repente, em pesadelo.
Isidora é uma ilha onde ninguém se lembra de nada, um espelho vazio de reflexos perdidos. Não há nomes, nem casas, nem famílias... nem medo. E quando não há memória, a mesma pessoa pode ser amada várias vezes. Que haverá que nos prende ao mundo? Quanto de esquecimento cabe no amor? Kaori Ito, inspirada na obra de Stefan Merill, “The Story of Forgetting”, explora, em “Island of no memories”, os limites do corpo e a capacidade das vozes. Através do movimento dos corpos, apaga-se o vivido quando se faz pertinente, mistura-se a voz com o tempo. “Island of no memories” é a desordem da mente, um emaranhado de cordas que nos aprisionam, destituindo-nos da liberdade. Na vertigem do movimento, a memória não passa de anamnese.
A fechar a edição de 2012 do GUIdance (11 de fevereiro), uma das companhias de dança/teatro mais aclamadas do momento apresenta, em estreia nacional no CCVF, a sua mais recente criação. Depois da trilogia composta pelas peças “Le Jardin”, “Le Salon” e “Le Sous Sol”, e de “32 rue Vandenbranden” (apresentada no CCVF), Peeping Tom apresenta-nos “For Rent”, um espetáculo forte, visualmente fascinante e cinematográfico, que mistura dança, música e efeitos visuais. Somos conduzidos numa lógica de curto prazo, de flexibilidade, de reinvenção sem limites que faz com que o discurso de uns se transforme na fantasia dos outros. O palco é lugar onde “a criação se recria constantemente” e fonte de imagens que jorram incessantemente. É espaço cénico para oito bailarinos que oscilam no fio da incerteza, fundindo sonho com realidade, passado com presente, imaginação com objetividade. Não há mais lugar para uma narrativa única dentro deste quadro de múltiplas vozes. “O palco é um lugar que não nos pertence, um lugar onde somos inquilinos intermitentes”.
Todos os espetáculos do festival têm início marcado para as 22h00.
Os bilhetes para os espetáculos podem ser adquiridos no Centro Cultural Vila Flor, nas lojas Fnac e no site www.ccvf.pt onde é possível consultar toda a programação.
É possível usufruir do serviço de baby-sitting durante o período dos espetáculos por apenas 1 euro, o qual poderá ser requerido junto da bilheteira.
Imagens referentes aos espectáculos podem ser descarregadas através do seguinte link:

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