sábado, 21 de maio de 2011

Festivais Gil Vicente marcam a programação do Centro Cultural Vila Flor

Junho é mês de Teatro em Guimarães


As Três Irmãs ©Victor Hugo Pontes_6


Em Junho, os Festivais Gil Vicente voltam a marcar o calendário vimaranense. Entre os dias 02 e 11 de Junho, o Centro Cultural Vila Flor volta a ser palco de mais uma edição dos Festivais Gil Vicente – principal festival de teatro da cidade de Guimarães, que se realiza, sem interrupção, desde 1987. Tendo já percorrido um longo caminho, os Festivais Gil Vicente têm feito um percurso de afirmação, que leva a que tenham já um reconhecimento regional e nacional, após se terem reposicionado programaticamente no teatro contemporâneo.


Os espectáculos dividem-se em duas semanas. No dia 02 de Junho, a mais recente encenação de Nuno Cardoso, “As Três Irmãs”, marca o início do festival. Depois de “Platonov” (2008) e de “A Gaivota” (2010), o encenador Nuno Cardoso encerra a sua trilogia tchekhoviana com “As Três Irmãs”. Olga, Macha e Irina vivem um quotidiano banal e frustre numa pequena cidade dos confins da Rússia enquanto sonham com o regresso à Moscovo natal. Nestes tempos de crise, quando a nostalgia daquele momento em que “éramos felizes e não sabíamos” – repetindo a formulação de Pessoa – paira como uma ameaça, importa saber onde fica a nossa Moscovo, importa compreender porque é que o sonho não se torna motor de futuro. Metáfora do sonho destruído pelo tempo que passa, “As Três Irmãs” reúne um elenco excepcional, um conjunto de actores experientes e uma espécie de liberdade que apenas o desejo de Teatro pode trazer consigo.


No dia seguinte, 03 de Junho, é a vez de João Garcia Miguel apresentar a sua nova encenação, “O Filho da Europa”, baseada no texto “Kaspar”, do escritor austríaco Peter Handke. Segundo as palavras do próprio Peter Handke, a peça não apresenta Kaspar como ele é ou como ele era verdadeiramente. Revela o que é possível fazer com alguém. Mostra como falando se pode forçar alguém a falar. Esta é a primeira informação que Peter Handke nos dá acerca da sua ideia para a peça e João Garcia Miguel aproveitou-a, desde logo, para criar um espaço cénico tridimensional de ampliação e visualização dos ritmos e impulsos visuais e sonoros que o actor produz. O espaço onde decorre a peça funciona como um dispositivo de vigilância onde, adicionalmente, o olhar do público espectador é integrado e emergido no espectáculo.


No dia 04 de Junho, a companhia Théâtre de la Mezzanine regressa ao Centro Cultural Vila Flor para apresentar “Dido e Eneias”. Conhecida pelos seus espectáculos oníricos e excêntricos, de grande impacto visual, a companhia francesa traz até aos Festivais Gil Vicente a sua visão contemporânea de “Dido e Eneias”, uma das mais célebres óperas barrocas do famoso compositor britânico Henry Purcell. Em palco, encontramos um lago cheio de água, onde flutuam os restos de uma fábrica abandonada: um espaço misterioso sobre o qual se estende um conjunto de tubagens enferrujadas e uma plataforma onde está colocada a orquestra do espectáculo. Através deste cenário original e fantasioso, o encenador Denis Chabroullet transporta-nos para o subsolo de Cartago, onde Dido e Eneias vivem uma paixão assombrada por um destino trágico.


Na segunda semana, os Festivais Gil Vicente prosseguem, no dia 09, com “A Philosofia do Gabiru”, de Martim Pedroso, um espectáculo que revisita o universo literário do militar, jornalista, pintor, escritor e poeta Raul Brandão. Título retirado de um dos capítulos do poema dramático “Os Pobres” (1906), “A Philosophia do Gabiru” visa explorar cenicamente aquilo que foram os sonhos, os devaneios, as angústias e as liberdades filosóficas de Raul Brandão (1867-1930), que soube documentar como ninguém, e de forma muito particular, um Portugal em profunda crise económica, política, moral e social, numa época em que o mundo atravessava as mais conturbadas mudanças.


No dia 10, o Teatro Meridional apresenta, em estreia nacional, a sua mais recente produção, “Os Especialistas”. Nas sociedades contemporâneas proliferam os “Especialistas”. Eles trabalham arduamente no sentido de clarificarem as causas de acontecimentos nas suas áreas de competência, fechando-as em linguagens e técnicas só por eles dominadas. Perante tal aura de mistério, o comum dos mortais sente-se naturalmente demitido, por não se encontrar na posse de tão complexa competência. A preparação de Comunicações Especializadas será o pretexto para se falar deste mecanismo das sociedades actuais, que torna o exercício da democracia num fenómeno muito parecido com a ordem das ditaduras.


Os Festivais Gil Vicente terminam no dia 11 de Junho com “Snapshots”, do Teatro da Garagem. “Snapshots” invoca histórias de amor inscritas em fotografias. Miss Mara anda sempre com uma máquina fotográfica e fotografa sem olhar – é a mão que vê. O cenário onde se desenrola a peça é o estúdio de Miss Mara: um ecrã negro que ocupa o fundo de cena onde são projectados materiais videográficos, o chão é uma piscina de fotografias. Miss Mara tenta construir possibilidades ficcionais a partir do material fotográfico e cénico disponível. Cada história desenvolve-se a partir de uma fotografia e cada fotografia gera cada uma das personagens.


Paralelamente, foram programadas outras actividades que complementam o cartaz do festival. Na terça-feira 31 de Maio e 07 de Junho, às 21h30, as habituais sessões do Café Falado do CCVF terão como tema o teatro. Na primeira sessão do Café Falado dedicada aos Festivais Gil Vicente, discute-se a importância do criador estabelecer uma relação de privilégio com um determinado espaço, para desenvolvimento mais profundo do seu trabalho e sua respectiva apresentação. Num tempo de mudanças profundas, o teatro assume-se como linguagem de resistência à possível diluição da arte enquanto matéria de unidade de um povo. A vida projectada no palco e a perspectiva que a partir dessa projecção se renova, são pensamentos em reflexão aberta para a segunda sessão do Café Falado englobada nos Festivais Gil Vicente.


No que diz respeito à formação, Susana Paiva irá orientar duas Oficinas de Fotografia, uma destinada aos adolescentes dos 12 aos 15 anos, e outra para maiores de 18 anos. Nos dias 07 e 08 de Junho, Maria António Oliveira e Nelson Guerreiro orientam um seminário que irá explorar as noções de biografia, autobiografia e autoficção, bem como a história e as polémicas do género. Serão discutidas as relações arte/vida, biógrafo/biografado e ficção/biografia enquanto narrativa factual. Haverá ainda lugar ao estabelecimento de ligações entre as temáticas abordadas e o espectáculo “A Philosophia do Gabiru”, a partir do universo literário de Raul Brandão. O seminário destina-se a artistas, estudantes de artes, literatura e ciências sociais e humanas, jornalistas e candidatos a biógrafo, maiores de 16 anos. A inscrição é gratuita e poderá ser efectuada no Centro Cultural Vila Flor ou no site www.ccvf.pt através do preenchimento do formulário disponível online.


Os Festivais Gil Vicente 2011 são organizados pela Câmara Municipal de Guimarães, A Oficina, o Círculo de Arte e Recreio e a Fundação Cidade de Guimarães. Todos os espectáculos têm início às 22h00, excepto a peça “As Três Irmãs”, de Nuno Cardoso, que está marcada para as 21h30. Os bilhetes encontram-se à venda no Centro Cultural Vila Flor, em todas as lojas Fnac e no site www.ccvf.pt onde é possível consultar toda a programação.

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