terça-feira, 15 de novembro de 2011

«Grandes Vidas»: Um manual salva-vidas cheio de humor




Um livro que, logo na capa, promete transformar as nossas finanças e a vida…parece pretensioso. E não se fica por aqui. Afiança que conseguirá viver melhor gastando menos. Não é bazófia, pelo menos em teoria. «Grandes Vidas», de Rui Aires de Queiroz, publicado pela editora Marcador, traz preciosos conselhos e uma mensagem positiva. A de que o mais importante é saber que o caminho é sempre em frente.
O título do livro foi escolhido de propósito. O autor confidencia que «Grandes Vidas» é das expressões portuguesas que mais abomina. O desafio que deixa é que dentro dos milhares de restrições orçamentais que temos, se tente viver da melhor forma, com o menor número de problemas possíveis. Esse é o repto!

Na introdução, não é prometido que irá atingir a liberdade, mas são dadas dicas para que consiga sentir-se um pouco mais livre e melhor com as suas escolhas. Mas sempre com a ressalva de que «o seu caminho só você pode trilhar».
O tom do livro é ligeiro e brincalhão, o que ajuda a absorver o conteúdo, ainda para mais numa altura tão crítica, pautada por um desânimo generalizado, em que só se ouve falar de crise e cortes e medidas de austeridade.
O autor explica o porquê de poupar, os benefícios de ter uma cultura de poupança, recorrendo, para o efeito, a gráficos muito explícitos, e apresenta situações com pontos a favor e contra. Por exemplo, fala da opção por «fast food» quando só temos 15 minutos para almoçar. É barato, diz, mas alerta que, a longo prazo, pode sair muito caro, particularmente no que toca a doenças. Depois há a questão de decidir-se pelos transportes públicos para ir para o emprego. Pode ou não ser bom do ponto de vista financeiro, mas é bom de todos os outros pontos de vista (menos stressante, pode aproveitar para ler um livro e faz exercício), sublinha.

Para Rui Aires de Queiroz, o dinheiro é uma «ferramenta», que não deve ser idolatrada nem tampouco ostracizada. «Vamos ter o dinheiro como nosso amigo…aceitá-lo ou usá-lo para o nosso bem interior, para nos fazer melhores pessoas, pessoas mais livres, mais conscientes.»
Não se importa que o chamem de «sonhador» nem de «coitado» pelos outros, porque «os olhos dos outros não nos devem importar para nada, excepto se quisermos seguir uma carreira política. Nesse caso, há que ter cuidado e nunca escrever um livro como este».
Em «Grandes Vidas» a ideia a reter é que ganhamos a liberdade estando conscientes de todos os euros gastos e por que motivo foram gastos. Para isso, é necessário estar informado, mas «com informação relevante».
De entre as recomendações inclui-se «Não compre baseado em cenários futuros». O desafio é não fazer planos de compras a mais de um ano. «A vida, a nossa existência, dá muitas voltas, mesmo muitas, umas delas radicais, outras mais suaves, mas qualquer um capaz de o fazer ter de mudar os pilares com que estava a viver.»
Um dos capítulos, «Ganhar dinheiro poupando», é bastante assertivo. Uma vez que tem dinheiro poupado pode adquirir bens sem recorrer ao crédito, e está logo a poupar. Muito importante também é ser paciente e, por exemplo, não comprar modelos acabados de sair, mas sim esperar que o preço baixe. É só aguardar pela chegada de uma nova tecnologia para que isso aconteça. O segredo está em não ter pressa em comprar.

O humor parece ser uma virtude de Rui Aires de Queiroz. «Não poupe à pobre», diz. E dá o exemplo do centro comercial que está com uma promoção de 25% em todas as compras mas que fica a 100 km da sua casa e nesse dia é invadido por pessoas sequiosas de aproveitar a oportunidade única. Demora-se uma hora a chegar ao centro comercial, gasta-se gasolina, mais 30 minutos a estacionar, já no interior do shopping depara-se com o caos completo e duas horas depois já não aguenta e só quer fugir. Valeu a pena? Não.
«A estupidez paga imposto» é a melhor frase alguma vez inventada, segundo o autor. Este imposto, explica, consiste no dinheiro que é gasto erradamente em algo que não queríamos ou em algo em que fomos enganados por alguém, pelas circunstâncias, pelo marketing ou outra coisa qualquer. A melhor forma de aprender a viver com «este imposto da estupidez» é evitá-lo (ou então pagá-lo mas não ficar a cismar na questão). O importante é não repetir o erro.

Máximas como «Compre de acordo com as suas reais necessidades», «Não seja emocional» e «Os problemas que não consegue resolver, não os resolva» estão em grande destaque aqui. Apela-se ainda a que se faça uma análise pessoal aos gastos. Finda esta fase, há que perceber o que é relevante, quanto se quer poupar e onde se pode poupar.
São dados conselhos práticos como poupar com os bancos, (spread, contas à ordem, cartões de crédito); com seguros, em casa (energia e desperdícios); com o carro (não andar, partilhar, não ter em excesso, optar pelos em segunda-mão, alterar o estilo de condução); poupar nas férias (fazer bem as contas, os melhores meses, marcar com antecedência, optar pelos melhores meses, viajar em grupo, acampar); poupar em produtos electrónicos (não vá em modas, compre modelos que vão ser descontinuados, compre os que estão expostos nas lojas, guarde as garantias, compre online); poupar no que ingere (coma em casa, contenha-se nas idas ao supermercado, aprenda a cozinhar, corte nos refrigerantes, coma melhor), entre muitos outros.
Fico com a ideia de que Rui Aires de Queiroz caiu num caldeirão mágico com uma poção de bom senso quando diz:«Não se preocupe com erros do passado nem com erros do futuro, nem lhes dê demasiada atenção, vá aprendendo com eles, mas seja o máximo que conseguir fiel ao que realmente você quer e não se deixe enganar nem pelo seu cérebro nem pelo marketing. E o mais importante é saber que o caminho é sempre em frente, sempre foi e sempre assim será».


in Diario Digital

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